segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O agente secreto

Num final de semana, pleno sábado, por volta d’às 18 h, nós estávamos jogando uma pelada num campinho perto da linha ferroviária, quando vimos o trem baiano, que, por ser um trem especial, não parava em estações pequenas.
A locomotiva abaixou a velocidade e, quando estava aproximadamente com 10 ou 15 quilômetros h, para nossa surpresa salta um homem com duas malas de viagem, uma em cada mão. O trem acelerou e o moço colocou uma mala no chão e deu com a mão agradecendo o maquinista.
Nos cumprimentou cordialmente e perguntou onde ficava o sítio do Sr. Henrique Palombo. Alguém o indicou, e o jovem dirigiu-se para lá.
Sr. Henrique residia na capital de São Paulo; vinha com a família nos finais de semana para descansar. Era um sítio muito bem cuidado com pomares, hortaliças e alguns cereais, como: milho, feijão e mandioca. Havia quatro empregados. Esse moço veio para tomar conta. Isto é, como administrador. Os empregados ficaram boquiabertos com tanta habilidade que moço desempenhava em qualquer serviço. Fez a reforma da casa, exercendo o ofício de pedreiro, carpinteiro, eletricista e encanador. Ajudou a arrumar a cerca e sabia tirar leite. Era um verdadeiro polivalente. Consertou a bomba de água. Até de mecânico, o moço entendia!
E tratava seus subordinados com muita educação. Era do tipo que queria tudo corretamente sem puxar o saco do patrão. Quando o serviço rendia, ele dava folga por conta dele.
Fiquei sabendo que ele se chamava Antônio e nascido na Bahia. Vindo muito novo para São Paulo, razão para qual perdeu o sotaque baiano.
E foi fácil para Antônio conquistar amizade na vila. Às vezes, à tarde, ele vinha para bater um papo com o pessoal. Nos dias de domingo, era convidado para almoçar na casa de um, outro domingo ele ia para outra casa. Sempre levava mistura, pois não gostava de explorar ninguém. Razão pela qual todos os convidavam. Sempre com bom punhado de notas de alto valor no bolso. Nunca andava duro, como se diz na gíria.
Falava quatro idiomas. Ficamos sabendo disso porque havia um poliglota, cujo nome Sr. José Leite que, de vez em quando vinha na vila e conversava com o Antônio em inglês, francês e italiano para exibir seus conhecimentos.
Todos perguntavam: “como pode uma homem com tanto conhecimento, muito culto, trabalhar em um sítio. Alguém desconfiava, dizendo: “ aí tem coisa”!
Antônio era um sujeito cheio de surpresa. Arrumou um bodinho preto, sem nenhuma pinta de outra cor. Ensinou o animal e, com pouco tempo o bichinho fazia tudo o que ele mandava. E o animalzinho bebia pinga na tigela e comia ponta acesa de cigarro.
Também arrumou um canarinho que, era tão mansinho, cantava no seu bolso. Ele colocava o bichinho no bolso e deixava-o com a cabecinha de fora. O canarinho cantava que era uma beleza!
Outra façanha do baiano era ser um exímio jogador de futebol.
Logo foi contratado para jogar no time titular. Jogava na posição de meia esquerda. Driblava muito e chutava forte e certeiro. Era difícil uma partida que ele não marcava gol! Parecia ser profissional! Certa vez, faltou goleiro e, Antônio se ofereceu para jogar no gol. Pegou todas bolas difíceis. Não tomou nenhum gol!
Enfim, era um elemento amado, respeitado e admirado por todos.
Aparentava ter uns 35 ou 40 anos aproximadamente.
Vou deixar um pouco de lado o nosso personagem protagonista e falar dos coadjuvantes. Havia três elementos sitiantes que amiúde vinham na vila a cavalo. Não bebiam cachaça pura, mas se embriagavam com caipirinha, vermute e vinho.
Quando ficavam meio alto , arrumavam confusão atoa. Quem os contrariassem, apanhava de chicote.
Numa noite enluarada, plácida, todos nós na praça se divertindo com as peripécias do animalzinho do Antônio. Ele mandava o bichinho se ajoelhar, sentar ou fingir de morto. O animalzinho obedecia. Nós batíamos palmas e o bichinho adorava ser aplaudido!
E o animalzinho estava dando seu show e era agradecido com uma dose de pinga na tigela, quando de repente chegam os maus elementos para estragarem com a festa.
Não sei se foi por inveja, ou por pura maldade, eles começaram a insultar Antônio. Este fingiu ignorar. Dizendo ser homem de paz e detestava violência. Portanto, eles queriam briga de qualquer jeito. Vendo que Antônio não se abalava; um deles, o mais atrevido dos três, deu uma chicotada no bodinho que gritou de dor! Aí não deu outra: Antônio perdeu a cabeça e partiu para cima do cara dando –lhe uma rasteira. O cara pulou, mas outro pé pegou o tal no ar. Antônio deu uma rasteira com o pé canhoto, mas rapidamente passou o pé destro em meia altura. O pião caiu no chão . Veio outro dois. Antônio arrancou um facãozinho que carregava nas costas. Por isso ninguém percebia que ele andava armado. Os caras pularam em cima do cavalo e começaram a chicoteá-lo. O baiano pulava igual macaco e riscava o facão na calçada que era só fogo que saía! “E dizia: desçam dos cavalos, seus covardes. Eu não quero ferir os animais inocentes”.
Os maus elementos vendo que não conseguiam acertá-lo, saíram a galope.
Os caras nunca mais vieram na vila enquanto Antônio não foi embora. Ele partiu sem nos despedir deixando apenas um bilhete com os seguintes dizeres: “Vim aqui para cumprir uma missão. Sou agente secreto federal. Capitão da captura. Consegui descobrir os bandidos que tanto temorizavam o povo da vila Carrão em São Paulo. Vou sentir saudades de vocês. Pois todos irão ficar no meu coração para sempre. Estou partindo para outra missão. talvez seja mais difícil do que essa. Orem por mim. Se um dia eu puder, virei visitá-los. Adeus. Abraço deste seu amigo de sempre". Eram ladrões perigosos, quatro irmãos ladrões de carro e até assaltantes de banco. Eles compraram um sítio vizinho do Sr .Henrique. faziam a maior baderna, trazendo prostitutas da capital, e rolava muita droga e bebida nas festinhas que eles faziam no sítio. Certo dia, veio um camburão armados até os dentes e levou-os para cadeia. E tiveram que devolver a charrete que eles haviam roubado do Sr. José Leite que também tinha uma chácara vizinha do sítio do Sr. Henrique
Este é mais um caso verídico que aconteceu no bairro de Luiz Carlos em Guararema.
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