Minha vida em resumo

Minha vida em resumo

Nasci no bairro de Luiz Carlos
Município de Guararema
Pertinho da capital
Embora seja pequena
É  uma linda cidade
Onde têm lindas morenas

Meus pais eram lavradores
Plantava mandioca e feijão
Nossa casa ficava
No fundo de um grotão
Não havia luz elétrica
À noite, era só escuridão

Eu acordava muito cedo
Para ir à escola estudar
Eram 8 quilômetros
Eu tinha que caminhar
Levava virado com ovo
Pra na hora do lanchar

Completei o 3º ano
Não pude mais continuar
Pois não havia ginásio perto
O motivo de eu parar
Naquele tempo era dureza
Tinha que os pais ajudar

Comecei com 11 anos
Pegando no guatambu
Tirava meia tarefa
Ainda cedo pra chuchu
E na hora do almoço
Se alimentava feijão e angu

De vez quando um torresmo
Quando pai podia comprar
Nos dias de domingo
Um franguinho pra variar
Minha mãe tinha no terreiro
Era só matar e limpar

Voltando ao assunto da escola
É preciso eu ressaltar
Eu que era um menino calmo
Na escola aprendi a brigar
Também aprendi a bater
Depois de muito apanhar

Quando  o adversário era grande
Eu não aguentava a pancada
Apelava para o estilingue
Comia o cara na pedrada
Se não desse certo as pedras
Eu saía em disparada

Logo passei a maioridade
Fui  trabalhar fichado
Na fábrica de dinamite
Lá eu sofri um bocado
Havia um colega de serviço
Que era muito invocado

Assim que eu ingressei
Ele começou a provocar
Toda dia, toda hora
Ele ia me entregar
Nada que eu fizesse
Conseguia lhe agradar

Um dia perdi a paciência
Após tanta provocação
E ele sendo mais forte
E valente como um furacão
Apelei para uma arma
E o cara tombou no chão

Ouvi muita dizer
É certo esse ditado
Enquanto existir vaselina
Não tem nada de apertado
E também arma de fogo
O valentão é derrotado

O processo correu
Eu fui absolvido
Porém, mudei para capital
Temendo ser perseguido
Somente Deus é sabe
O quanto eu fui sofrido

Confesso que sofri muito
Em matéria de amor
Todas que namorei
Me causaram dissabor
Eu me apaixonava fácil
Custava passar a dor

Teve uma que quase
Acabou com a minha vida
Eu a amava loucamente
E ela muito atrevida
Meteu o pé no meu traseiro
Chorei muito na despedida
Para esquecê-la me mudei
Para uma cidade distante
Acompanhei um circo
Trabalhando de ajudante
Logo virei palhaço
Fiz um sucesso brilhante

No sofrimento descobri
Que tinha dom de humorista
No palco eu me transformava
Me tornava num artista
Além de fazer palhaçada
Atacava também de repentista

Mas um dia o destino
Resolveu me contrariar
Por motivo muito forte
Eu tive que abandonar
A carreira de artista
A razão vou explicar

Foi morto pelo esquadrão
Da morte,  que antigamente existia
Um bandido com o mesmo nome
O jornal da globo anuncia
Onde moravam meus pais
A triste notícia corria

Quando eu soube da história
Que mamãe estava sofrendo
Pensando que eu estava morto
Ainda por motivo horrendo
 Desisti de tudo na hora
Para casa voltei correndo

Ela me implorou chorando
Para nunca mais eu ficar
 Longe dela para sempre
Era grande o seu penar
Eis o motivo principal
Do circo eu abandonar

Trabalhei na fazenda
Da indústria papel simão
Logo ingressei-me fábrica
Aprendi depressa a profissão
Recebia um bom salário
Era imensa a satisfação

Andava muito trajado
De sapato cromo alemão
Calça de nicron ou tilirene
Camisa cara e jaquetão
A minha vida mudou
Namorada tinha um montão

De tanto levar chifre
Não amava mais ninguém
Até que um dia apareceu
Aquela que hoje é meu bem
Sou feliz ao lado dela
E a faço feliz também

Faz mais de 42 anos
Que ela vive ao meu lado
Desde que a conheci
Não me senti mais abandoando
A cada dia que passa
Estou mais apaixonado

É assim que acontece
Na vida de muita gente
Depois da tempestade
A bonança é permanente
Minha tristeza acabou
Hoje vivo sempre contente

Agora vou encerrar
Este meu simples cordel
Contei apenas em resumo
Pra não gastar muito papel
Da vida nada mais quero
Do que a bênção do céu!